sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Latitud 33° Malbec 2007 (Argentina)


Tive a honra de ser o convidado do mês de novembro para a escolha do vinho da Confraria Brasileira de Enoblogs. Quis escolher um vinho fácil de se ver em supermercados para continuar a minha série de vinhos facilmente encontrados em mercados ainda que o seu preço esteja um pouco acima da série que vinha postando.
Contudo, eu o consegui em uma promoção por R$ 15,90 quando seu preço de costume fica por R$ 18,90.

O vinho é produzido pela Bodega Chandon, que tem como "peça" mais identificável o espumante. Também fiquei sabendo (se não estou me confundindo) que o famoso Terrazas de los Andes é da mesma vinícola.

O Latitud 33° é um vinho interessante. Tem a coloração típica dos vinhos do novo mundo, brilhante, bordô ("abrasileirado"), bonito no copo. Bastante aromático, no início seu álcool incomoda um pouco. Mas bem pouco, com alguma decantação ele some. Desde o princípio seus aromas tomam conta dos arredores e pode-se sentir a baunilha sem enjoo (tem acento ou não agora?), algumas ervas, não identificava se era chocolate amargo ou tabaco. No fim pode ser que não seja nenhu dos dois e passou a ter mais sentido uma expressão poética como "um cheiro aconchegante".

Na boca um vinho aveludado, como leve adocicado característico do malbec, de acidez equilibrada que casou muito bem com um macarrão à bolonhesa, e de persistência interessante. Traz a baunilha que a mim não foi enjoativa ainda que eu veja que talvez seja para algumas pessoas.

Acho que é sim um vinho de produção em larga escala. O escolhi sabendo disso. Aqui se avalia vinho por ponto, ou taças, melhor dizendo. Mas acho que dessa vez fará mais sentido utilizar um vinho referência como o Santa Helena ou um reservado Concha y Toro para o avaliar. E sendo assim, posso garantir que sua qualidade é acima desses dois. Seu preço também o é.

Enfim, se você tiver dois ou três reais a mais para investir no vinho da noite, este pode ser melhor opção do que os já supra citados. Ainda que não seja a única opção nessa faixa de preço.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Vinho nacional comemora a desvalorização do real


28/10/2008 - 11h10
Vinho nacional comemora a desvalorização do real

MAURO ZAFALON
da Folha de S.Paulo

Crise é sempre ruim, mas esta pode proporcionar alívio a um setor que vem sendo sufocado nos últimos anos pelo bom desempenho da economia brasileira: o da vitivinicultura. A boa evolução da economia nos últimos anos trouxe um grande volume de dólares para dentro do país, provocando a valorização do real e permitindo a elevação das importações.

Em 2002, quando a moeda norte-americana atingiu R$ 3,80, o vinho importado representava 48,8% do mercado brasileiro. Neste ano, a média de janeiro a agosto indica que os importados representam 76,8% do mercado. No início de agosto, o dólar estava a R$ 1,56.

No ano passado, quando o dólar terminou o ano a R$ 1,77, entraram 57,6 milhões de litros de vinho no país. Mantido o ritmo de importações de 2007, o volume deste ano poderia atingir 70 milhões de litros.

A concorrência ficou mortal para o produto brasileiro. Há registros de importações de vinho a US$ 4,35 por caixa de 12 garrafas, ou seja, US$ 0,36 por unidade (R$ 0,57). Esse valor não paga o custo da garrafa vazia, dizem produtores nacionais. Além disso, outros 15 milhões de garrafas entram no país via contrabando, segundo informações do setor.

Embora o retorno do dólar a patamares superiores a R$ 2 traga alívio e iniba as importações, a viticultura não deixa de ficar apreensiva com a crise, que pode afetar a renda dos consumidores. Afinal, o vinho seria um dos produtos a sair da lista de consumo com a queda da renda familiar.

Preço maior

Se a crise se aprofundar será ruim para o produto nacional, mas pior ainda para o importado. A concorrência do vinho importado ficará comprometida com esse novo patamar do dólar. E perderá exatamente o produto de menor qualidade, já que os vinhos caros sempre terão consumo garantido.

"Quem importa e quiser repassar [a alta do dólar] não vai conseguir vender. Hoje é difícil repassar até a inflação, imagine os 30% a 40% de alta que terão os produtos importados", diz Danilo Cavagni, diretor de relação corporativa da Chandon. Angelo Salton, da Vinícola Salton, diz que essas elevações deverão ficar "próximas de 30% e darão uma ajuda para o setor".

Na avaliação de Salton, mesmo os estoques atuais, comprados com o dólar mais barato, deverão sofrer reajustes até o final do ano. Caso contrário, o importador verá seu capital dilapidado e perderá o poder de novas compras em janeiro.
O comprador do varejo é "frio" e, como trocou o vinho nacional pelos preços mais baratos dos importados, voltará aos produtos brasileiros que, em janeiro, não terão problemas de repor estoques, diz ele.

Ajuda ao exportador

Além de ajudar as vendas nacionais, a elevação do dólar deve facilitar as exportações brasileiras, tornando o produto mais competitivo. Grande parte das empresas brasileiras já faz exportações rotineiras.

"É uma questão cambial e conjuntural", diz Márcio Bonilha, diretor nacional de vendas da Miolo Wine Group. Assim como os importadores foram beneficiados com a queda do dólar, agora é a vez de os nacionais se beneficiarem, acrescenta Bonilha.

Mas essa questão cambial vivida pela indústria do vinho é apenas uma parte do problema. Estudos do setor mostram que o vinho nacional chega à gôndola dos supermercados com carga tributária elevada.

Para Hermes Zanetti, presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Viticultura, Vinhos e Derivados, "seguramente a alta do dólar vai ajudar a frear a inundação do mercado brasileiro por vinhos importados, principalmente os mais baratos".
Atualmente, de cada quatro garrafas de vinho fino vendidas, três vêm de fora. Já o consumo de espumantes mostra exatamente o contrário, com apenas uma importada em cada quatro consumidas.

O excesso de importações de vinho nos últimos anos elevou os estoques nacionais e já complica a recepção de uvas pelas indústrias na próxima safra, diz Zanetti. Se acentuada, essa crise vai ser repassada para 20 mil famílias que cultivam uma média de 2,5 hectares.

O setor certamente terá um alívio com a desvalorização do real, "mas a gangorra do dólar não explica tudo", diz Alem Guerra, diretor comercial da Vinícola Aurora. Além da concorrência do dólar barato, o setor teve um constante aumento de custos, vindo de energia elétrica, encargos sociais e insumos específicos.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/comida/ult10005u461246.shtml

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Como enganar os esnobes



Matéria da revista Época de 6/out/2008

A publicação mais influente do mundo do vinho comete uma gafe ao premiar a carta de um restaurante inexistente – e azeda a credibilidade dos especialistas

O restaurante italiano Osteria L’Intrepido poderia pendurar numa parede o prêmio que ganhou da prestigiosa revista de enologia The Wine Spectator, a mais influente do mundo quando o assunto é vinho. Só que o restaurante não tem parede. Ele nunca existiu. Isso não impediu que a revista o premiasse com o Award of Excellence, reconhecendo as qualidades de sua carta de vinhos – um diferencial que eleva o prestígio e pode incentivar a clientela a provar rótulos mais caros, ainda que pouco conhecidos. A adega fictícia saiu da imaginação do enólogo americano Robin Goldstein. Ele queria pôr à prova os critérios de seleção dos concursos que determinam o sucesso ou o fracasso de vinhos e de restaurantes. “A idéia era desmistificar especialistas e concursos enológicos que ditam o que é melhor para o consumidor”, disse Goldstein em entrevista a ÉPOCA.

Ter conquistado o prêmio já seria motivo suficiente para expor ao ridículo os critérios da Wine Spectator. Mas Goldstein fez mais. Entre os 256 rótulos da premiada carta de vinhos do Osteria L’Intrepido, supostamente situado em Milão, no norte da Itália, havia uma seleção estrategicamente desastrosa. Goldstein escolheu apenas vinhos caros – e condenados pela própria Wine Spectator nos últimos 20 anos. Um Amarone Classico “Gioé”, safra 1993, com preço equivalente a R$ 305, havia sido criticado pela revista por ter “caráter de solvente de tinta e esmalte de unha”. O Cabernet Sauvignon “I Fossaretti”, safra 1995, fora descrito como tendo “gosto metálico e estranho”.

Como a revista caiu na armadilha? O truque de Goldstein foi providenciar um número telefônico em Milão com uma gravação em que o restaurante avisava estar fechado para obras. O enólogo ainda criou um blog para o restaurante e postou comentários falsos em fóruns de enologia. Assim, o L’Intrepido aparecia no buscador Google, mesmo sem existir. Isso bastou para que os críticos da Wine Spectator acreditassem que o restaurante era real. “Não visitamos cada um dos restaurantes que participam de nossa premiação”, afirmou Thomas Matthews, editor-executivo da revista. “Prometemos avaliar a carta de vinhos e, quando recebemos a inscrição, assumimos que o restaurante existe”. Isso não justifica premiar uma carta de vinhos que oferece rótulos com gosto de esmalte de unha e inseticida. Entende-se a gafe ao conhecer a natureza dos prêmios criados pela publicação. Eles surgiram em 1981, quando concursos do tipo eram raridade nos Estados Unidos. De lá para cá, se transformaram num negócio que rende milhões de dólares para a revista.

Cerca de 4.500 restaurantes de todo o mundo se inscreveram no concurso deste ano – e apenas 319 não foram premiados. Cada inscrição custa US$ 250. Só com as candidaturas, a receita ultrapassou US$ 1 milhão. “E, quando você vence, eles ligam oferecendo espaço para anúncio”, diz Goldstein. A polêmica ganhou réplica e tréplica no site da revista e no blog do falso restaurante. “Sim, fomos enganados. Mas esperamos que os amantes de vinhos continuem usando nosso guia para encontrar restaurantes e compartilhar sua paixão pelo vinho”, disse Matthews, em defesa da Wine Spectator. “É contraditório a revista premiar uma carta de baixa qualidade, com vinhos mal avaliados pela própria publicação”, diz Manoel Beato, sommelier do restaurante Fasano e autor do Guia de Vinhos Larousse.